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domingo, 11 de março de 2012

Os Lusíadas - Episódio de Inês de Castro

"[...]Aquela que depois de morta foi Rainha."
A jovem amante e em seguida esposa do Príncipe D. Pedro, assassinada a mando do pai dele, o Rei D. Afonso IV.

D. Pedro se apaixonou por Inês quando ainda era casado, e teve filhos com sua amante. Depois, com a morte de sua esposa, teria se casado com Inês em segredo. A ligação entre o Príncipe e Inês não foi bem vista pelo Rei. Em consequência, o Rei, estimulado por seus conselheiros, decidiu-se pelo assassinato de Inês, que foi degolada, enquanto o Príncipe estava fora de Coimbra, onde vivia o casal. O crime motivou um longo conflito entre o Príncipe e o pai. Depois que se tornou Rei, D. Pedro ordenou a exumação (desenterramento) do cadáver, para que Inês fosse coroada como Rainha.

Os dois principais homens que assassinaram Inês, foram caçados e trazidos ao Rei que, enquanto comia, assistiu à morte que mandou dar a eles, sendo o coração de um arrancado, vivo, pelo peito e o do outro, pelas costas. E tudo foi feito por um carrasco inexperiente, que, desajeitado, demorou mais que o necessário e teve muita dificuldade para terminar a tarefa, prolongando e intensificando assim a satisfação do Rei com aquele espetáculo.
Esse comportamento sanguinário se tornou constante em D. Pedro, que, obcecado por justiça, torturava ele mesmo os suspeitos de crimes. Por isso, ele passou a ser chamado tanto Pedro o Justiceiro como Pedro o Cru (isto é, cruel).

***
"Tu, só tu, puro amor, que tendes tanto domínio sobre os corações humanos, tu é que  foste a causa da sua morte deplorável, como se ela fosse uma inimiga traiçoeira. Se dizem, Amor cruel, que a tua sede não pode ser aliviada nem com lágrimas tristes, é porque exiges, despótico e cruel, que os teus altares sejam banhados com o sanguede sacrifícios humanos.

Estavas tranquila, linda Inês, gozando os belos dias da tua juventude e vivendo aquela ilusão alegre e cega que o destino não deixa que dure muito. Nos campos à margem do rio Mondego, as saudades do teu amado faziam que teus belos olhos chorassem tanto, que o rio nunca ficava seco, e que tu repetisses o nome dele - gravado no teu coração - como se quisesses ensiná-lo aos montes e à vegetação.

As lembranças que o Príncipe guardava na alma respondiam aos teus chamados. Tais lembranças faziam que ele tivesse a tua imagem sempre diante dos seus olhos, quando se encontrava afastado dos teus olhos belos.
"De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam."
Enfim, tudo o que ele pensava e via "eram tudo memórias de alegria".

O Príncipe recusava casamentos com Princesas e outras mulheres belas e nobres, pois tu, puro amor, desprezas tudo, quando te escravizas a um belo rosto. O velho pai prudente, vendo esse estranho comportamento apaixonado, e atentando para os rumores que corriam entre o povo, assim como para o capricho de seu filho, que não queria casar-se, decidiu matar Inês, para livrar o filho do amor que o prendia a ela. O Rei acreditava que só com o sangue de um infame assassinato poderia apagar o fogo do amor que incendiava o Príncipe. Que fúria foi essa que fez com que a mesma espada afiada que pôde enfrentar a violência dos mouros fosse levantada contra uma frágil e delicada mulher?

Os horríveis carrascos trouxeram-na ao Rei, que já se mostrava disposto ao perdão, mas o povo, com motivos falsos e ferozes, convence-o a condená-la à morte. Ela, dizendo palavras tristes e piedosas, nascidas da mágoa e da saudade do Príncipe e filhos, que iria deixar - o que a magoava mais do que a própria morte -, levantando para o céu azul os olhos chorosos e suplicantes (só os olhos, porque as mãos estavam presas por um dos duros conselheiros do Rei) e, em seguida, comtemplando as suas tão queridas e amáveis crianças, cuja orfandade temia, assim falou ao cruel avô delas:

"Até as feras, irracionais e cruéis por natureza, e até as aves selvagens, só voltadas para a rapina, têm, como já se pôde ver, sentimentos de piedade para com as crianças pequenas. Exemplos disso são Semíramis [Rainha lendária da Assíria], a mãe de Nino, que quando criança foi abandonada em um monte, sendo lá alimentada por aves de rapina, e também os irmãos Rômulo e Remo, que fundaram Roma e, quando pequenos, foram alimentados por uma loba.
Ó tu, que tens o rosto e peito humanos (se é que se pode considerar humano quem mata uma moça fraca e indefesa só porque ela conquistou o coração de quem soube conquistá-la), tem pena destas criancinhas, já que não o tens da morte tenebrosa da mãe delas. Que tenhas compaixão delas e de mim, pois não ages em consequência de qualquer culpa, que não tenho.
E se tu, vencendo a resistência dos mouros, sabes dar morte com fogo e ferro, sabe também dar vida, com benevolência, a quem não cometeu crime nenhum para perdê-la. Mas se a minha inocência merece isto de ti, "põe-me em perpétuo e mísero desterro, na Cítia fria ou lá na Líbia ardente, onde em lágrimas viva eternamente."
Manda-me para onde se use toda a brutalidade, entre leões e tigres, e verei se junto a eles posso encontrar a piedade que não achei entre corações humanos. Ali, com o profundo amor e desejo daquele por quem morro, criarei estas crianças que aqui viste, que são lembranças dele e serão consolo para a mãe triste que serei."

O Rei, benevolente, queria perdoar a Inês, tocado que estava por aquelas palavras, que o magoavam, mas o povo, que insistia, e o próprio destino de Inês, que estava assim estabelecido, não quiseram perdoá-la. Aqueles que defendiam a morte de Inês arrancam suas espadas afiadas. Contra uma senhora, ó peitos carniceiros, mostrais ferocidade e valentia?

Assim, os brutos assassinos de Inês se enraiveciam, furiosos, sem pensar no castigo futuro. Eles enterraram suas espadas no alvo pescoço, que sustinha o rosto com que Amor matou de amores aquele que depois a fez Rainha, e mancharam de sangue as flores que havia em seu colo e que ela já tinha regado com lágrimas.
Vós, ó côncavos vales, repetistes por longo tempo o nome de Pedro, que ouvistes como palavra final da boca de Inês.

Assim como perde o perfume e muda a cor a flor banca e linda cortada prematuramente e machucada pelas mãos travessas de uma menina que a colocou numa grinalda, assim também está pálido o cadáver de Inês: as maçãs de seu rosto estão secas e, perdida a vida, perdeu-se também seu colorido."

***
"Amor: Força que impulsiona não só as pessoas, mas tudo o que no Universo se atrai - Amor que move o Sol e as outras estrelas."

***
"A posição primeira dos túmulos foi lado a lado, de pés virados a nascente, em frente da primeira capela do transepto sul, então dedicada a São Bento. Em 1956 foram mudados para a sua actual posição, D. Pedro no transepto sul e D. Inês no transepto norte, frente a frente. Quando os túmulos, no século XVIII, foram colocados frente a frente apareceu a lenda que assim estavam para que D. Pedro e D. Inês "possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final".

***
"Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava"

***

"Monique, leia com muita atenção! Somente as pessoas sensíveis como nós conseguem enxergar tal beleza!" Obrigada por ter me emprestado o livro, SLee!

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